Ai, ai, Como Eu me Iludo - O TERNO
Falando sobre
emoções humanas na música, é inevitável deparar-se com o amor. E sobre o amor
romântico temos um repertório praticamente infinito de canções, de amores
platônicos ao desejo selvagem, de pares perfeitos a corações partidos.
A canção em questão
foi escolhida porque lida com a paixão arrebatadora com humor e demonstra bem o
conflito que existe entre a razão e as emoções. Se você não se identificou com
a letra da música "Ai, ai, como eu
me iludo", do grupo paulista O
Terno, certamente conhece alguém com o perfil. Aquele tipo que está sempre
vivendo um novo romance, ou passando por uma "fossa" daquelas.
Muitas vezes essas
pessoas são bastante equilibradas e ponderadas nos outros âmbitos de sua vida,
mas quando falamos sobre sua vida amorosa, é sempre uma montanha-russa.
Repetidamente a pessoa alterna entre novos romances que a levam aos céus,
seguido fatalmente de frustrações e decepções.
E por que isso
acontece, não importa quão inteligente a pessoa seja? A música demonstra
claramente: "eu pensei que ia mudar,
que estava vendo a luz, depois dos erros e erros da última vez...". A
questão é que o apaixonar-se não envolve a mente consciente, e é ela a
responsável pelas racionalizações. Mas no universo dos sentimentos, o
inconsciente governa soberano, e muitas vezes nosso "Eu emocional"
não passa de uma criança indefesa procurando um substituto para o amor dos
pais.
Toda a afeição que
tenhamos recebido ou deixado de receber quando crianças somam-se à figura
idealizada que criamos de nosso pai/mãe/cuidadores e criam a fantasia do par
ideal. E quando nos deparamos com pessoas que reflitam, ainda que remotamente,
essas idealizações que criamos inconscientemente enquanto crianças, a magia
acontece e pumba! Estamos perdidamente apaixonados. Projetamos no outro todas
as características que esperamos do objeto de amor perfeito e com o passar do
tempo... Bam! Decepções.
A realidade
paulatinamente se sobrepõe sobre a fantasia, o véu cai mais ou menos lentamente
e percebemos que aquela pessoa não é absolutamente nada parecida com o que
imaginamos.
"Nossa como eu viajei!
Meu deus, confundi tudo!
Nossa como eu vacilei!
Porque eu já fiz isso milhares de vezes,
como é que eu nunca aprendi
a não gostar das pessoas tão rápido assim?”
E não importa
quantas vezes se tente, a situação sempre acaba se repetindo, como uma reprise
de novela cujo final já conhecemos bem, mas ironicamente, nunca esperamos. A
repetição só termina quando nos damos conta de quais conteúdos são estes que estamos
projetando, que faltas nossa criação deixou em nós, que tipo de consolo
procuramos para nossas angústias, que ameaças pairam sob nossos medos mais
antigos e escondidos.
Respondendo cuidadosa e honestamente a perguntas como essas,
vamos progressivamente sendo mais capazes de entender por que nos atraímos por
certo tipo de pessoa ou relacionamento e nos tornamos capazes de romper com
padrões e criar novos paradigmas, novas formas de viver um relacionamento
amoroso. Fácil é dizer, mas que na maioria dos casos requer um tempo razoável
de análise e reflexão.
Ou como na
música, podemos estacionar no estágio de perceber o problema, mas não sua causa
e nos repetirmos a nos iludir, de novo e de novo.
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