Metade - ADRIANA CALCANHOTO



No texto anterior, falei sobre os conflitos entre razão e emoção nos relacionamentos amorosos. Gostaria de dar continuidade ao tema, trazendo agora uma canção que fala sobre o luto após o término de um relacionamento, a música "Metade", de Adriana Calcanhoto.

A letra demonstra bem o estado emocional em que costumamos ficar quando passamos por um rompimento:

“Eu perco o chão
Eu não acho as palavras
Eu ando tão triste
Eu ando pela sala
Eu perco a hora
Eu chego no fim
Eu deixo a porta aberta
Eu não moro mais em mim”

Entretanto, gostaria de me aprofundar e chamar a atenção para a última frase “Eu não moro mais em mim...”. A sentença, assim como o nome da música, Metade, indicam qual a causa principal do sofrimento: o sentimento de incompletude sem a presença do outro.

Usei anteriormente a música “Vento no Litoral” da Legião Urbana como exemplo de superação adequada e saudável (ver musica-e-seu-valor-diagnostico em Música e Psique). Agora falo do luto patológico, quando a superação da perda não se completa.

Fazendo uma consideração fria, é compreensível encontrar esse estado de espírito em alguém que acabou de passar por um rompimento, mesmo quando se tratasse de um relacionamento ruim. Os ritos de passagem devem ser vividos, as alternâncias dos ciclos da vida devem ser sentidas para que possam ser transpostas, para se seguir em frente, como se diz. E nesse caso não é diferente. O luto pela perda de um vínculo afetivo importante precisa ser vivenciado para que seja possível superá-lo apropriadamente. Porém se o sofrimento se prolonga indeterminadamente, temos o sofrimento patológico.

Quando nosso conhecimento sobre nossas emoções não está maduro o bastante e não temos controle ou compreensão sobre nossos sentimentos, nos tornamos facilmente seus reféns. E quando temos um nível de carência ou uma auto-imagem de impotência e de incapacidade, podemos projetar no outro as características que acreditamos faltar em nós mesmos.

Assim, passamos a acreditar que só é possível alcançar a realização pessoal com a participação do outro. Sentimo-nos como meia laranja, precisamos da nossa outra Metade para nos sentirmos completos. A libido, a força de vontade que nos move em direção aos nossos interesses desaparece completamente, acompanhando aquele que partiu. O Eu se despedaça, se fragmenta, já que não somos capazes de sentir-nos inteiros sozinhos.

“Eu perco as chaves de casa
Eu perco o freio
Estou em milhares de cacos
Eu estou ao meio
Onde será
Que você está agora?




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