ANSIEDADE - o mal da nossa era



    Aparentemente, a despeito de todos os avanços da civilização, nunca nos sentimos tão ansiosos quanto agora. Todo o conforto, segurança e tecnologia que a sociedade moderna nos oferece concedeu ao ser humano um nível de individualidade nunca antes alcançado, o que acarretou em dois efeitos colaterais principais.
O primeiro é que perdemos o senso de coletividade e de pertencimento e nos colocamos em um lugar onde o mundo todo é o outro, o inimigo, o desconhecido. Devemos temê-los. O segundo é que adquirimos uma liberdade sobre quem somos maior que nunca e, consequentemente, uma maior responsabilidade sobre nossos próprios destinos. Tomamos nossas decisões sozinhos e o sucesso ou o fracasso parece estar agora inteiramente sobre nosso encargo.
Os paradigmas atuais dizem que não devemos obediência a absolutamente ninguém, além das leis do estado e mesmo a essas, somente quando estamos sendo observados. O mundo é incerto, as regras não são claras, as pessoas são suspeitas. É difícil ser inteiramente responsável por nossas vidas quando não sabemos qual caminho é mais apropriado para nós, ou em quais pessoas podemos confiar.
A maioria aceita como resposta a essas questões aquelas que vêm definidas e normatizadas pelo mundo externo. Dos pais, da sociedade, dos amigos, do cônjuge, da religião, do trabalho. Outras pessoas levam vidas duplas, fingindo ser o que acreditam que esperam deles em público e dando vasão a seus desejos mais sombrios anonimamente. Outras ainda, travam uma batalha diária para manter negados seus verdadeiros pensamentos e viver a personagem que lhes foi atribuída. Algumas apenas vagam e se esquivam, errantes pela vida, sem se identificar com nada e assim sem se fixar a nada e nada construir.
Seja como for, enquanto tentarmos apoiar nossas vidas em bases que não são nossas, em conclusões a que não chegamos com nossos próprios pés, em todos os casos haverá um sentimento de insatisfação, medo e ansiedade, enquanto não pudermos nos assentar firmemente numa forma de viver que seja essencialmente nossa e que faça sentido ao ecoar em nosso universo interior. Não podemos tornar o mundo mais seguro, mas podemos mudar nosso olhar, o olhar para dentro e o olhar para o outro. Talvez possa ser um começo. Conhecer-se, aprimorar-se e sentir-se mais seguro em si mesmo, para sentir-se cada vez menos pressionado, mais relaxado e focado somente no que é realmente importante. E como um bom barco, ser capaz de seguir ao seu destino sem ser afetado por marés, ventos e tempestades.

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