Música e psique
Definida pelos gregos como linguagem das musas, a música é expressão artística das mais importantes em todo o mundo, em toda a história da civilização. Desde as sociedades tribais aos países mais desenvolvidos, ela sempre foi integrante ativa de uma cultura.
Além disso, tem sido usada para promover certos estados de consciência e de ânimo desde tempos imemoriais, como nas músicas litúrgicas, hinários e cantos de louvor em homenagem às divindades, ou hinos, que usam o texto literário para exaltar valores e para motivação: de nações, estados, instituições, grêmios recreativos, hinos marciais e os de times de esportivos, em voga até hoje. Todas as nações possuem hinos. Nas artes cênicas, é a música quem dá o tom emocional à narrativa que está sendo encenada. Emissoras de rádio e TV trabalham essencialmente com música.
Também está associada a contextos histórico-sociais, indo das modernas “tribos” até às canções dos escravos nas Américas para transmitir mensagens codificadas que possibilitavam sua fuga e sobrevivência sem que fossem descobertos. Já foi usada em inúmeros casos para dar ritmo, velocidade e continuidade na realização de trabalhos manuais os mais diversos (remadores, lavadeiras). Para o psicanalista Tiago Sanches Nogueira, autor de Ensaio Sobre Um Infinito: Música e Psicanálise, ambas possuem intersecções bem definidas quando olhadas numa perspectiva de construção do homem no mundo: “a música ensaia e antecipa aquelas transformações que estão se dando, que vão se dar, ou que deveriam se dar, na sociedade. A psicanálise com Freud, tematiza não somente as possibilidades da modernidade enquanto tal, mas também as impossibilidades construídas para o sujeito nela inserido. Portanto, ambas, música e psicanálise se conectam no movimento em que fazem perante o tempo, cada uma com sua particularidade, e sem dúvida, articulam-se com aquele que as constrói: o Homem”.
Pois perguntamos, como essa linguagem nos afeta? Por que ela é tão vital para a humanidade? Abordaremos a música em seus aspectos afetivos nas sociedades tribais. Seu papel como recurso de acesso aos afetos. Como facilitadora na criação de senso de identidade, agregação social e pertencimento, além de disseminadora de valores e costumes. Seus vínculos possíveis com as teorias da psicanálise, sendo uma linguagem do inconsciente. E por fim, suas aplicações possíveis na prática analítica.
Sobre minha relação com a música, não possuo nenhuma formação musical e não me sinto capacitada para emitir críticas sobre a arte em si. Nunca aprendi a tocar um instrumento, mas tenho recordações de como muito precoce e profundamente a música me tocou. Desde quando aprendia a lidar com a angústia da separação na primeira infância e encontrei apoio na música. Depois quando supri a ausência da figura paterna aprendendo nos clássicos do heavy metal valores como honra, coragem, resistência e persistência.
Como muitos jovens, assimilei perdas afetivas com baladas hard rock. Me confrontei com a melancolia e as pulsões de morte ao som do pós-punk e das bandas góticas e por vezes ainda recorro à discografia de certos guitarristas quando desejo me sentir tranquila e otimista. Já elaborei temas complexos como conflitos entre emoção e razão ou matéria e espiritualidade ao som elaborado de bandas de metal e rock progressivo.
Aos 12 anos, aprendi a sublimar as angústias escrevendo poesias e foi algo que me ocorreu espontaneamente. Entretanto, não pensava escrever poesia, mas tinha plena certeza que estava escrevendo “letras de música”. Tudo isso me leva a crer que a música tenha influenciado muito em minha forma de me situar no mundo.
Assim, creio que se esses campos de conhecimento se aliarem, a música pode vir a ser excelente recurso na psicanálise, tanto para o analista, que aperfeiçoa sua escuta, quanto para o analisando, que tem uma ferramenta a mais para as idas e vindas de seu inconsciente. Minha proposta nesse blog é a divulgação e a reflexão sobre a psique humana e sua relação com a música. Por essa razão, reservei esta área para discorrer de forma mais técnica e elaborada sobre a relação entre música e psique.
Espero que apreciem a sondagem. Sejam bem vindos!
Música Tribal
Makuxi vestindo trajes de paishara, Raposa Serra do Sol, Brasil
© 1996 Fiona Watson/Survival
Começo com esse texto uma série especificamente sobre a relação entre música e psique, principiando por seu papel nas sociedades primitivas e tribais. A antropologia nos mostra que a música e a evolução da espécie humana estiveram sempre intimamente ligadas, provavelmente nos acompanhando antes mesmo da aquisição de uma linguagem propriamente dita. Nas sociedades primitivas tribais, ela era usada para interagir simbolicamente com os entes naturais que os cercavam e também para levá-los a diferentes estados de consciência que lhes permitiriam entrar em contato com seus deuses. Assim, a musicalidade era um recurso para que os povos tribais pudessem lidar com as coisas que não podiam compreender ou expressar de outra forma.
Nos primórdios, as artes, a religião e os costumes sociais estavam intrinsecamente conectados e todos atendiam a um único propósito: situar o homem em seu mundo e recriar simbolicamente aquilo que não podia ser controlado em sua manifestação natural. Com a crença de que forças místicas animam a natureza, o homem poderia exercer ação sobre ela através de palavras e gestos apropriados. Tal influência constitui o essencial daquilo que se denomina magia. A magia é a técnica e estratégia do animismo: palavras pronunciadas em voz alta ou cantadas são forças.
Freud, em Totem e Tabu discorre sobre como o totemismo e o animismo possivelmente serviram de base em nossas origens, nossa maneira de pensar e agir no mundo. Da mesma forma, a magia animista parece ter sido a origem do desenho, da pintura, da escultura, da música e logo, direta ou indiretamente, de todas as artes. Imitando as forças da natureza e seus entes sobrenaturais, que o ameaçavam ou lhe eram necessários à sobrevivência, pensavam criar uma maneira de se comunicar e controlar esses elementos voláteis e imprevisíveis. Se houve o sentimento de culpa pelo assassínio do pai primevo que levou ao tabu do incesto, certamente a música era parte do esforço de reparação, para aplacar os espíritos dos ancestrais e a si próprios na humanidade primitiva.
Povos indígenas brasileiros ainda hoje fazem uso de instrumentos musicais que tentam imitar os sons da natureza, como o chocalho ou o “pau-de-chuva”, flautas que imitam os sons de pássaros etc. [1] e a música é de extrema importância nas diversas manifestações culturais e sociais de cada etnia, fazendo parte dos rituais de magia, socialização, contato direto com os ancestrais e cura.
Dentre eles, podemos encontrar exemplos interessantes de como a música tem sido usada por povos tribais para intencionalmente lidar com os afetos de seus distintos integrantes. A etnia Kalapalo, no Mato Grosso, usa a música ritualmente como meio de comunicação entre domínios que eles definem como absolutamente separados ou entre categorias desiguais de seres: homens e mulheres, seres humanos e seres poderosos, adultos e crianças pequenas.
Essa comunicação é feita não tanto pelo estabelecimento de um clima de solidariedade, mas principalmente para mostrar aos ouvintes o poder desses seres, assim como para usar os poderes dos ouvintes para desarmá-los temporariamente. Já para a etnia Kĩsêdjê, cantar é o máximo da expressão oral, tanto individual como coletivamente. Quando os Kĩsêdjê se ouvem cantando, percebem muito não só a respeito da situação geral do grupo, mas como determinado homem se sente em relação a algo. Ou seja, as akias (música cantada somente pelos guerreiros da tribo) Kĩsêdjê são um dos meios utilizados pelos homens para dizerem algo sobre si mesmos. A palavra Kĩsêdjê associada com a audição, kumba, tem um significado mais amplo do que a palavra na língua portuguesa "ouvir". Ela significa ouvir, compreender e saber. Tais atributos são os mais valorizados nessa sociedade.
Formadora e mediadora de sentidos na sociedade Madija, para a etnia Kulina (Amazonas e Peru) a música age como portadora ideal de significados. Quando tocam seus instrumentos, como as flautas totoré e boboreré, assim como o arco musical jijití, as melodias e ritmos guardam semelhanças com as canções. Conhecidas por todos, funcionam independentes das palavras, não podendo dessa forma ser tratadas como molduras, como formas aguardando conteúdo. A música age como um fio condutor labiríntico, que simboliza a necessidade de tradução do contínuo, no qual o mundo dos espíritos, mítico e da natureza sensível formam um todo. [2]
Em outro exemplo auspicioso, temos as Ahãdeaki ou Hãde, que são cantos entoados pelas índias dos troncos linguísticos Tukano Oriental e Aruaque (Amazonas). São geralmente cantados nos dabucurís (festa de oferenda de alimentos), nas quais as mulheres oferecem caxirí (bebida fermentada) para os homens, enquanto cantam. Nesse momento elas dizem o que sentem e que não pode ser dito em outras situações da vida cotidiana. As cantoras podem falar sobre algo que sentem em relação a algum dos homens, da saudade da aldeia de origem, de algum acontecimento recente, como a passagem de algum visitante pela aldeia. Esses cantos são aprendidos em ocasiões informais com as mães ou avôs, momento nos quais as cantoras aprendem também o significado dos cantos e os procedimentos que devem ser tomados na hora de cantar. [3]
Por fim, convém citar a complexa interação musical no Jamunikumalu, maior ritual de canto das mulheres da etnia Kuikuro, no Alto Xingu, no Mato Grosso. A cerimônia foi registrada no documentário intitulado As Hiper Mulheres, onde a cantora Kanu Kuikuro resume seu significado: “O canto jamunikumalu não fala de uma pessoa específica. Não fala de fatos que aconteceram nem de namoros. Mas tem um significado na língua dos povos do passado”. Ela explica também que as canções só podem ser executadas quando há convidados de aldeias vizinhas e detalha os cantos que pedem para que o peixe seja servido, os que provocam os maridos, os que brincam com o sexo masculino, dentre outros. [4]
Imagem do documentário "As Hiper Mulheres"
Não cabe aqui detalhar a complexidade com que a música é elaborada por essas tribos e seus distintos propósitos, mas através destes breves exemplos fica claro o quanto a música está associada ativa e diretamente por esses povos na criação, transformação ou reforço de vínculos afetivos, comportamentos e relações sociais e a expressão e articulação dos afetos.
Alguns autores comparam as raves de música eletrônica ao novo tribal e “o DJ ao xamã, pois, assim como o xamã, o DJ conduz as pessoas a um estado de unidade, de coletividade... nas festas, xamãs veneravam a música, a experiência coletiva compartilhada por meio da dança tribal, do estado alterado da consciência provocado pelas batidas repetitivas... A estética da música repetitiva lembra os rituais dos povos indígenas e os mantras onde a repetição leva à transcendência.” [5]
Concluindo, aqui como ali, a música parece definitivamente afetar ao menos o aspecto coletivo da psique de cada indivíduo como integrante de uma comunidade, lhe concedendo uma identidade cultural a qual pertencer e o auxiliando a encontrar seu próprio papel dentro desta comunidade, seja esta uma pequena aldeia tribal ou uma “tribo global, com necessidades interdependentes e um destino comum.” [6]
Referências bibliográficas
[1][Online]. Available: http://povosindigenasdobrasil.blogspot.com.br/2014/10/a-musica-indigena.html.
[2][Online]. Available: https://pib.socioambiental.org/pt.
[3][Online]. Available: http://www.funai.gov.br/index.php/indios-no-brasil/sons-indigenas/2721-projeto-acalanto.
[4][Online]. Available: http://cartaodevisita.r7.com/conteudo/3920/as-hiper-mulheres-das-telas-para-as-teves.
Dipsonível em: https://www.youtube.com/watch?v=yJjJUVW_Rqs
[5][Online]. Available: http://www.psicanaliselacaniana.com/estudos/toquerave.html#_ftn1.
[6]E. Silva, “A dança de ritmos eletrônicos: o novo ritual tribal,” Porto Alegre -RS, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2010
Música e seu valor diagnóstico / terapêutico
Na busca de referências para o presente trabalho, pedi aos amigos nas redes sociais sugestões de canções que falassem sobre transtornos psicológicos, ou que lhes afetasse emocionalmente. Uma, em especial, chamou-me a atenção pela grande quantidade de vezes que foi sugerida: “Vento no Litoral”, da banda Legião Urbana.
Na opinião dos colaboradores, a letra da canção consegue sintetizar todo o processo angustiante da perda da pessoa amada, seguida da vivência do luto e de uma superação tranquila e madura. De alguma forma, a elaboração da angústia, tantas vezes vista dentro dos consultórios, foi descrita numa perspectiva que aponta para um desfecho mais maduro e equilibrado, como podemos aferir no verso de Renato Russo: “já que você não está aqui, o que posso fazer é cuidar de mim...”.
Essa capacidade de síntese que invariavelmente possibilita uma ação profilática é ressaltada pelo psicanalista L. Luiz em seu livro Música no Divã, “a música aparece como um elemento de mediação psíquica capaz de transformar, de modificar a maneira de falar, ouvir e entender algum aspecto psíquico. Evocam também a ideia de atravessamentos sonoros que contribuem para o uso específico da relação psíquico-musical apresentada”.
Temos outro exemplo de catarse por intermédio de uma canção com “Alive” da banda Pearl Jam, onde o vocalista Eddie Vedder narra como se sentiu aos 12 anos, quando sua mãe revela que o homem que ele acreditava ser seu pai era um estranho e que o pai verdadeiro havia morrido na prisão. O músico conta que compôs a música dando vasão ao seu sentimento de revolta.
A popularidade do grupo norte americano possibilitou que a música fosse ouvida por milhares de fãs e o brado que antes vocifera “I’m still alive” (eu continuo vivo) significando originalmente a “maldição” de ainda viver diante de um pai morto e desconhecido, segundo o vocalista e autor da canção, curiosamente, na interpretação de muitos fãs, ganha o tom de celebração da força de alguém que, apesar da angústia, sobreviveu e seguiu em frente. Dessa forma, garante Eddie Vedder, a música se transformou e a ele próprio, que a recebeu de volta como uma celebração à vida. O processo permitiu uma ressignificação dos afetos de um episódio doloroso ou em suas próprias palavras, foi capaz de “quebrar a maldição”.
Já no documentário Por toda minha Vida – Raul Seixas [1], conta-se a história de um homem que pretendia cometer suicídio e ligou o rádio antes de puxar o gatilho para abafar o som do disparo. Naquele momento, o aparelho tocava a música “Tente outra vez” de Raul Seixas. A canção o tocou tanto que ele não só desistiu de se matar, como garante que percebeu a solução de seus problemas e deu a volta por cima. Isso ocorreu após a morte do cantor, então o homem, em agradecimento, procurou a família de Raul e contou sua história.
Nas palavras de Luiz, “No lugar do não recordável, do não interpretável, Freud coloca a compulsão à repetição: em vez de recordar, o sujeito repete, em ato, o que não pôde se tornar consciente”. [2] Ou seja, quando o sujeito se depara com uma música que, à maneira da associação livre, o remeta a uma experiência em que cenas da infância foram fixadas a determinados significantes (cada cena tem seu memorial presente como música, o encadeamento de determinadas notas que se referem a determinadas palavras [3]), ele pode não só repeti-la, mas revivê-la no tempo presente, possibilitando a transição do registro imaginário para o simbólico, permitindo-lhe assim nomear e ressignificar tal afeto situado originalmente aquém dos domínios da memória e da consciência.
Todos esses elementos corroboram a ideia de que a música serve como um atalho ao inconsciente em via de mão dupla, tanto para auxiliar a emergir afetos e pulsões, especialmente os não-nomeados do período pré-edípico, desreprimindo-os e traduzindo-os para uma linguagem acessível ao ego, como no alcance de insights e elaboração de conteúdos que precisam ser ressignificados.
Neste breve período de minha experiência com a escuta analítica, os analisandos trouxeram-me por vezes em sua fala a música como manifestação de afetos. R. contando ter passado a tarde ouvindo punk rock porque estava “pilhado” de trabalho ou que tinha escutado reggae no caminho ao consultório para se acalmar pois se sentia ansioso. Em outra oportunidade, fez uma analogia da música de Amy Winehouse, “Wake up alone”, com sua própria vida, envolvendo problemas amorosos e dependência química. Já B., demonstra encontrar na MPB sua identidade étnica, de gênero e de classe social. Relatou a primeira vez que viu “cor” em uma música, quando lhe foi apresentada pelo pai a canção “Vila do Sossego”, do cantor Zé Ramalho. Outra referência musical foi a tradução de seu sentimento de castração por intermédio de “Tesoura do Desejo” interpretada por Elba Ramalho.
Sendo linguagem simbólica, e ao mesmo tempo fazer uso dos recursos do domínio pragmático das palavras, a música pode fornecer insights e dar informações sobre afetos que de outra forma seriam inacessíveis, nos ajudando a expressar como nos sentimos e quem somos. Sentimos nela nossas próprias emoções e por vezes encontramos formas de lhes dar vazão e até mesmo de encontrar-lhes novas interpretações. Pela música, enfim, adentramos na experiência do indeterminado da linguagem. Ou, segundo Luiz, “De alguma maneira, a entrada na cultura pela aquisição da linguagem mutila e, ao mutilar, produz detritos – restos impossíveis de representar. Com esses restos corporais e psíquicos se produz arte e literatura, que é uma forma de reinscrevê-los na cultura.” [4]
Assim como as instâncias psíquicas são múltiplas e muitas vezes dissonantes, nota-se a pluralidade sonora da música e suas possibilidades infinitas. Cada instrumento canta sua própria canção e dá um tom que se incorpora ao todo harmonicamente, mas sem perder sua individualidade, proporcionando-nos a experiência única de assimilar múltiplas “falas” simultaneamente.
Concluindo, a música nos toca. Na língua portuguesa, vejamos algumas definições do verbo TOCAR: 1 pôr a mão em; pegar; apalpar; 2 pôr(-se) em contato com; roçar por; encontrar(-se); 3 fazer menção ou referência; 4 movimentar-se na direção de; dirigir-se; andar, seguir; 5 estimular; fustigar, impelir, incitar; 6 aproximar-se de; chegar a, atingir; 7 estar contíguo a ou junto de; 8 fazer soar, tanger(instrumento musical); 9 dar um sinal por meio de toque ou som; 10 causar abalo a; impressionar, sensibilizar, comover; 11 dar-se conta; perceber; 12 provocar inspiração ou mudança em; influir, excitar [5].
Referências bibliográficas
[1][Online]. Available: https://www.youtube.com/watch?v=cKw49rBXdBc&list=PL71B99F2723FE5E37.
[2] L. Luiz, Música no divã: sonoridades psicanalíticas, São Paulo: Casa do Psicólogo, 2013.
[3] A. Quinet, “Psicanálise e Música: reflexões sobre o inconsciente equívoco,” Música e Linguagem - Revista do Curso de Música da Universidade Federal do Espírito Santo, vol. 1, nº 1, 2012.
[4] L. Luiz, Música no divã: sonoridades psicanalíticas, São Paulo: Casa do Psicólogo, 2013.
[5] “Houaiss Eletrônico,” Editora Objetiva, 2009.
A música na psicanálise
Nesta publicação pretendo dar uma visão mais teórica sobre os vínculos entre a música e a psicanálise. Há dois fatores cruciais quanto ao papel da música nos aspectos mais primitivos da psique, relacionados aos nossos estágios iniciais de vida. Afinal, desde o começo da gestação, somos embalados por um ritmo cadente especial: a frequência cardíaca materna. A princípio mais uma vibração que um som, essa frequência grave e ritmada nos acompanha e representa a certeza da sobrevivência e da segurança do útero materno. Alterações em seus batimentos podem sinalizar ao bebê o estado de sua mãe: se está doente, ou em perigo ou relaxada. Não deve ser por acaso que certas formas de percussão sejam associadas ao ritmo cardíaco e que tambores xamânicos sejam literalmente chamados de coração.
Em seguida, temos as canções de ninar e o falar materno. Ao nascer, sob o embalo da voz da mãe, vincula-se este som ao prazer e à segurança simbiótica que remete ao útero, estimulando as primeiras vocalizações, desprovidas de sentido, mas repletas de significado. Sobre este vinculo, o psicanalista e psiquiatra Antonio Quinet ressalta, “começando pela lalação, onde a musicalidade com seu ritmo, cadências, entonações, graves e agudos permite à criança expressar seus desejos e afetos – do júbilo ao ódio, da tristeza à exaltação”. Já para o psicanalista e escritor norte americano, M. D. Faber, “nós nunca nos esquecemos e não cessa o nosso prazer a partir da experiência do balbuciar mágico onde os sons são diferentes. Nós não estamos separados e sozinhos, o ritmo declara; não estamos divorciados da mãe que dá vida, que é música.” [1]
Freud mesmo, apesar de confessar sua falta de interesse pela música, admite seu poder de arrebatar o inconsciente:
“Não obstante, as obras de arte exercem sobre mim um poderoso efeito... Isto já me levou a passar longo tempo contemplando-as, tentando apreendê-las à minha própria maneira, isto é, explicar a mim mesmo a que se deve o seu efeito. Onde não consigo fazer isso, como, por exemplo, com a música, sou quase incapaz de obter qualquer prazer. Uma inclinação mental em mim, racionalista ou talvez analítica, revolta-se contra o fato de comover-me com uma coisa sem saber porque sou assim afetado e o que é que me afeta.” [2]
Não é por não ser capaz de se comover com a música que Freud não a aprecia e sim por não apreender racionalmente seus efeitos. Em suas conferências, discorrendo sobre associação livre e os vínculos inconscientes, diz:
“Pode-se constatar que as melodias que acodem à mente de uma pessoa de modo inesperado são determinadas por uma sequência de ideias à qual pertencem, e têm o direito de atarefar a mente, sem que haja consciência de sua atividade. É fácil, nesses casos, demonstrar que a relação com a melodia é baseada em sua letra ou em sua origem. Contudo, devo ter o cuidado de não estender essa asserção a pessoas realmente ligadas à música; sucede que com elas não tive qualquer experiência. Pode ser que para essas pessoas o conteúdo musical da melodia é que decide seu surgimento.” [3]
Freud não só valida a presença da música em nossa psique como manifestação do inconsciente via o mecanismo de associação, como admite que seja possível para algumas pessoas “realmente ligadas à música” que a própria melodia seja associada aos influxos do inconsciente.
Os autores na psicanálise que arriscaram dissertar sobre essa interação enfatizaram, além do mecanismo de identificação, a relação com os conceitos freudianos de interpretação de sonhos: Pulsão Invocante (baseado no jogo Fort da [4] dado por Freud como mecanismo facilitador para renúncia à satisfação instintual e alívio à angústia da separação), Deslocamento (censura dissimuladora do desejo, identificável na ação por semelhança) e Condensação (redução, reprodução simultânea e amalgamada do conteúdo). “Lacan demonstrou que esses dois últimos mecanismos equivalem a leis próprias da linguagem. A condensação equivale à metáfora, na medida em que uma palavra é substituída por outra; e o deslocamento à metonímia, pois nesta a troca de elementos se dá por contiguidade” [5].
Quinet explica que o inconsciente usa elementos originais do sonho como puros sinais sonoros, significantes, sem significado pré-estabelecido, por onde desliza o desejo. “O inconsciente é musical e sua manifestação se efetua através da musicalidade presente na linguagem falada, nos sons das palavras escolhidas pelo sonhador para relatar seu sonho. O significado delas é, na verdade, o desejo, tão fugaz quanto o sujeito que aí se manifesta. O sujeito do desejo é esse fogo no artifício da linguagem”.
Para Silva, a música, como o sonho, “comporta a articulação entre sentido (intelectivo) e base afetiva, que é própria da topografia do sujeito. Destarte, o local onde se constrói o mais genuíno sentido, aquele portado pelo pensamento do sonho, é a proximidade ao universo das pulsões, onde, ante ao desejo, os sentimentos são configurados como representação onírica e quiçá linguagem.” [6]
Sobre identificação, Luiz afirma que “Nesse sentido, haveria um poder de sedução em determinada música ou gênero, que levaria o sujeito, de alguma forma, a metaforizar o que o som produz nele (...) A identificação pode ser com a obra, o autor, a banda, a letra das músicas. Assim, entramos na semiótica vista pelo prisma das paixões. Falar da paixão significa reduzir o hiato entre o conhecer e o sentir”. [7] Segundo Orlandi [8] identificamo-nos com ideias, assuntos e afirmações, porque elas “batem” com algo que temos em nós. Esse algo é a memória dos sentidos que foram se constituindo em nossa relação com a linguagem, a arte e a música.
Sobre a Pulsão Evocante, comparando ao prazer (angústia e alívio) proporcionado pela audição da sequência de notas (e dissonâncias , silêncios, ruídos, crescendos), Gerber indaga: “Por que essa suspensão da volta à tonalidade fundamental, seja um radioso sol maior ou um pungente dó menor, por exemplo, nos produz esse sentimento de expectância ansiosa? Outra pergunta: por que melodias em modo menor, com a terça da tônica diminuída, nos produzem um sentimento nostálgico de recolhimento, uma depuração prazerosa da tristeza, e as melodias em modo maior nos transmitem um sentimento de alegria, de expansão?” [9] e Luiz conjectura que, “No que se refere ao eu, a atividade musical se oferece como uma agradável forma de controle, como a divertida superação da ameaça de um estado traumático (ou seja, a prevenção de uma experiência de pânico) (...) Mudando de instância, a música se relaciona com o superego quando nossa participação é avaliada em relação ao reconhecimento de regras e à obediência a essas regras.” [7]
Em seu artigo On the Enjoyment of Listening to Music [10], escrito em coautoria com o músico Siegmund Levarie, o psicanalista austríaco Heinz Kohut, criador da psicologia do self, articula que os estímulos (sonoros) que não podem ser controlados pela tradução em palavras mobilizam forças maiores que correspondem a uma organização muito primitiva do eu. O mundo dos sons puros não pode ser controlado pelo principal instrumento do pensamento lógico, as funções mentais neutralizadoras, refreadoras de energia, que Freud chamou de processo secundário do psiquismo. Mas a música seria assimilável, tendo gramática e normas que o eu pode compreender e incorporar à sua própria organização. Assim, os estímulos sonoros são controlados e a libido que havia sido mobilizada por antecipação para lidar com o influxo de som não organizado é liberada.
No artigo [11] em que Kohut dá sequência ao tema, explica que na mente do adulto, os processos primários continuam a existir no Id e são experimentados, por exemplo, nos fenômenos de satisfação alucinatória de desejos descarregados nos sonhos. Mas esses ficam encobertos pelos processos secundários do eu desperto. De maneira análoga, encontramos os processos musicais primários encobertos pelos processos musicais secundários. E na intersecção com Lacan, diz Quinet que “a música de uma fala com seu tom, andamento, pausas, em suma, como um intérprete de um instrumento musical faz com uma partitura, é que evoca o sentido do texto, sem no entanto enunciá-lo”. [5]
“A música tem o poder de mesclar a repetição e a diferença, o contínuo e o descontínuo. Por isso, remete não apenas ao tempo histórico e linear, mas também ao ausente, espiral e não cronológico, sugerindo o contraponto entre consciente e inconsciente”, diz Wisnik, que complementa, “toda nossa relação com os universos sonoros e a música passa por certos padrões de pulsação somáticos e psíquicos, com os quais jogamos ao ler o tempo e o som”. [12]
Referências bibliográficas
[1] M. D. Faber, “Psychoanalytic Review, 83(3),” em The Pleasure of Music: a Psychoanalytic Note, New York, Guilford Press, 1996, June, pp. 419-433.
[2] S. Freud, “O Moisés de Michelangelo,” em Totem e tabu e outros trabalhos - VOLUME XIII, Rio de Janeiro, Edição Eletrônica Brasileira das Obras Completas - Imago Editora, 1913-1914.
[3] S. Freud, “Conferência VI - Premissas e técnicas de interpretação,” em Conferências introdutórias sobre psicanálise (Partes I e II) - Volume XV, Rio de Janeiro, Edição Eletrônica Brasileira das Obras Completas - Imago Editora, 1915-1916.
[4] S. Freud, “Além do princípio do prazer,” em Volume XVIII, Rio de Janeiro, Edição Eletrônica Brasileira das Obras Completas - Imago Editora, 1925-1926.
[5] A. Quinet, “Psicanálise e Música: reflexões sobre o inconsciente equívoco,” Música e Linguagem - Revista do Curso de Música da Universidade Federal do Espírito Santo, vol. 1, nº 1, 2012.
[6] J. E. C. Silva, “Metáforas do inconsciente: metáforas dos sonhos e a metáfora musical da linguagem,” DOI 10.20504/opus2016a2207 [s.l.] v, vol. 22, nº n.1, pp. p.161-178, jun 2016.
[7] L. Luiz, Música no divã: sonoridades psicanalíticas, São Paulo: Casa do Psicólogo, 2013.
[8] E. Orlandi, “In Signorini, Inês (Org.). Língua(gem) e identidade: elementos para uma discussão no campo aplicado,” em Identidade linguística escolar, Campinas, Mercado das Letras, 1998.
[12] I. Gerber, “A nota fundamental: escuta musical e escuta psicanalítica,” Psicanálise, vol. 11(1), nº Sociedade Brasileira de Psicanálise de Porto Alegre, pp. 105-115, 2009.
[10] H. Kohut e S. Levarie, “On the Enjoyment of Listening to Music,” Psychoanalytic Quartely, vol. 19, nº Citação extraída de: L. Luiz, "Música no divã : sonoridades psicanalíticas", pp. 64-87, 1950.
[11] H. Kohut, “Observations of the Psychological Functions of Music,” Journal of the American Psychoanalytic Association, vol. 5, nº Citação extraída de: L. Luiz, "Música no divã : sonoridades psicanalíticas", pp. 389-407, 1957.
[12] J. M. Wisnik, O som e o sentido, São Paulo: Companhia das Letras, 1989.
Música — linguagem do inconsciente e Lacan
Capaz de evocar e ser o objeto mesmo, alternada ou simultaneamente, a música é significante com múltiplas facetas ou significado puro à medida em que ao evocar emoções permite que o ouvinte reaja e recrie a emoção em si mesmo, sem intermédio de racionalizações. Para Quinet, “É o sem-sentido próprio da música (presente na fala) que nos permite escapar ao autoritarismo da palavra. O ser humano tem a doença da significação, a obsessão pelo sentido. Ele quer dar sentido à vida, à morte e às palavras que lhe vem dos outros e do Outro, que é o lugar do inconsciente.” [1]
Proponho então uma articulação entre a teoria musical [2] e Lacan. A música se compõe de 3 partes: melodia (uma linha imaginária sinuosa e sonora), ritmo (tempo, pulsação sequenciada) e harmonia (bloco sonoro).
Cada parte deste tripé trabalha com diferentes aspectos de nossa psique. Assim, a melodia representa criatividade ou inspiração. O ritmo pode ser definido como representante da emoção. Assim, a harmonia, por ser uma elaboração arquitetônica sonora que é a combinação simultânea de sons (blocos sonoros), é em essência matemática e pode ser vista como representante do intelecto racional. Por fim, quando uma composição musical tem letra esta se enriquece em simbolização, pela elaboração artística fundindo duas artes: música e literatura. Ao assimilar a mensagem literária (letra da música), vem a metaforização daquilo que anteriormente habitava apenas o impronunciável.
Retornando a Lacan, este dividiu as instâncias psíquicas em 3 registros [3]: Imaginário (fundada na constituição do eu, relacionado ao “estádio do espelho” e a unificação do eu fragmentado), Simbólico (sistema de representação fundado na linguagem) e Real (realidade fenomenal, impossível de ser simbolizada). Se fizermos uma associação entre os 3 registros de Lacan e os 3 tripés que compõem a música, onde:
Harmonia + Letra (linguagem matemática/simbólica) = Simbólico
Ritmo (emoção/Id) = Imaginário
Melodia (criatividade/inspiração) = Real
Podemos identificar, baseados nas definições acima, que cada “registro” que compõe a música encontra seu lugar equivalente em um dos registros lacanianos. Se a música e a sua divisão tríplice - melodia, harmonia e ritmo - projeta o ser humano uma dimensão além, deve-se ao fato de ser composta com criatividade, lógica e emoção. Assim, para a psicanálise, a música estaria predisposta a cumprir o papel de linguagem transitória entre os 3 registros.
Como seu criador mitológico, o deus Hermes, a música possui salvo-conduto que lhe permite ir e vir livremente em qualquer dimensão, seja o Olimpo dos deuses, o mundo dos humanos ou o submundo de Hades. Simultaneamente habitando os 3 registros, encontraria sua manifestação plena no chamado nó borromeano (que só existe segundo uma certa amarração em que os registros são articulados de forma que cada um sustenta e interpenetra o outro). Esta é a ideia de Um no Real, em Lacan: o nó enquanto escrita da cadeia formada só por S1 (Significante-mestre). [4]
Sua relevância na análise, diz Quinet, se dá na “equivocidade do significante, que aparece como o fato de uma palavra poder ter vários sentidos (ambiguidade semântica) como verificamos no dicionário, mas estruturalmente ela é devida à articulação e à posição do significante na sua conexão com os outros.” [1]
Referências bibliográficas
[1] A. Quinet, “Psicanálise e Música: reflexões sobre o inconsciente equívoco,” Música e Linguagem - Revista do Curso de Música da Universidade Federal do Espírito Santo, vol. 1, nº 1, 2012.
[2] [Online]. Available: http://www.construirnoticias.com.br/a-importancia-da-linguagem-musical/.
[3] D. Trevizo, D. Braga, E. Vita, J. Oliveira e S. Fabiano, Imaginário, Simbólico e Real, São Paulo: Grupo de Estudos e Pesquisa Produção Escrita e Psicanálise – GEPPEP, Faculdade de Educação – FE da Universidade de São Paulo - USP.
[4] M. P. d. S. Leite, A teoria dos gozos em Lacan.
Disponível na internet em URL: http://www.educacaoonline.pro.br/a_teoria_dos_gozos.asp.
A música como fonte do sentimento oceânico em Freud e do gozo além do fálico em Lacan
Para apreciação musical não é necessário nenhum conhecimento prévio, ela invade o ouvinte e o inunda com sua linguagem ancestral, independentemente de sua percepção consciente. Schopenhauer argumenta que apenas por meio da arte é possível alcançar as ideias, que reúnem as representações produzidas pela vontade cega e irracional. A vontade converte-se em algo no mundo físico por intermédio das ideias (platônicas), cujo acesso é concedido através das obras de arte: da vontade às ideias, destas às obras de arte. Entretanto, o filósofo coloca a música acima dos outros tipos de arte. Ele define a música como emanação direta da vontade, uma linguagem universal anterior a todas as outras linguagens, plásticas ou verbais.
No caso da música, a obra é quem olha e penetra o espectador. Essa invasão, que Schopenhauer denomina sentimento oceânico, justifica a existência e preenche momentaneamente os vazios com seus ecos, expõe as contradições e a própria vontade para serem contemplados e aceitos. Freud usou a mesma denominação para referir-se a experiências religiosas ou, “uma sensação de eternidade, um sentimento de algo ilimitado, sem fronteiras — oceânico, por assim dizer” [1], ou na descrição de Gerber, “um estado contemplativo desligado de palavras e pensamentos, uma absorção na vivência da emoção estética do puro presente.” [2]
Em Lacan, temos o Outro gozo (ou gozo além do fálico, ou ainda gozo feminino), que residiria na intersecção entres os 3 registros. Lacan conceitua este Outro gozo mais além do falo porque se situa fora do significante. Podemos compreendê-lo como um gozo a mais não organizado pelo significante fálico. “O infinito e ilimitado do Outro gozo traz a ideia de plenitude. Corresponderia à situação ideal em que a tensão fosse totalmente descarregada, sem o entrave de nenhum limite.” [3] Portanto, compreendida como a singularidade, a escrita de cada sujeito, ao situarmos a música no nó borromeano, a vemos posicionada num lugar em que ao mesmo tempo constitui-se como linguagem e está além dela, num lugar “que não foi perdido pela castração, mas emerge além dela, efeito da passagem pela linguagem, mas fora dela, indizível e inexplicável. Constitui-se com um enigma.” [4]
Ao encontro destes conceitos, novas descobertas no campo da neurociência indicam “que a música deve ter uma função evolutiva. Se existem conexões cerebrais, passadas de geração em geração, que ligam os receptores de som diretamente ao centro emotivo do cérebro, é porque algum papel ela deve ter para a sobrevivência humana (nem que seja facilitar as relações sociais). A reação química que temos a uma música emocionante é parecida com o que sentimos em outras tarefas essenciais, como comer ou fazer sexo: uma injeção de dopamina que percorre o corpo. Por isso, o arrepio musical é chamado pelos neurocientistas de orgasmo na pele”. [5]
Referências bibliográficas
[1] S. Freud, “O mal-estar na civilização,” em Volume XXI, Rio de Janeiro, Edição Eletrônica Brasileira das Obras Completas, Imago Editora, 1925-1926.
[2] I. Gerber, “A nota fundamental: escuta musical e escuta psicanalítica,” Psicanálise, vol. 11(1), nº Sociedade Brasileira de Psicanálise de Porto Alegre, pp. 105-115, 2009.
[3] M. P. d. S. Leite, A teoria dos gozos em Lacan.
Disponível na internet em URL: http://www.educacaoonline.pro.br/a_teoria_dos_gozos.asp.
[4] G. W. Rabelais, A devastação na relação mãe e filha, Rio de Janeiro: Departamento de Psicologia da PUC, 2012.
[5] [Online]. Available: http://super.abril.com.br/ciencia/ouvir-musica-te-deixa-arrepiado-voce-tem-um-cerebro-especial/.
Comentários
Postar um comentário